Não foi difícil para os discípulos, que estavam no meio do povo e que escutavam a cada momento os comentários sobre a Pessoa de Jesus, dar uma resposta: alguns afirmavam que Cristo era Jeremias; outros que era Elias; para outros Ele era Moisés; e para outros, algum dos profetas.
Mas, lendo o Evangelho com maior atenção, podemos perceber que havia quem considerasse Jesus um bom “aproveitador da vida”, a ponto de ser definido como “comilão e beberrão”, e para outros, ainda uma autêntica encarnação do diabo – motivo pelo qual expulsava os demônios com a força do mesmo príncipe dos demônios, segundo eles. Quem sabe a mais clara manifestação do sofrimento de Jesus seja dada pela Sua mesma confissão: “Nenhum profeta é aceito na sua pátria, e vocês me podem dizer: médico, cura-te a ti mesmo”. A Pessoa de Jesus se coloca na nossa frente como modelo de todo o agir para qualquer um, mas especialmente para os sacerdotes.
Pensar no sacerdote é pensar em alguém frágil, pecador, carregado de tantos defeitos e limitações, mas que, um dia, não só por sua decisão própria de querer seguir o Cristo, mas por vontade da mesma Igreja que discerniu a sua vocação por meio de tantos anos de caminhada, foi “consagrado sacerdote”. Quer dizer, foi chamado e considerado apto para ser no mundo uma presença viva de Jesus, um “outro Cristo” e recebeu como missão fazer de sua vida uma transparência de amor e revestir todos os seus atos de carinho, de perdão e de misericórdia em favor de todos os que necessitam de Jesus.
Nenhum padre poderá esquecer o dia em que se prostrou diante do altar e foi, pelo ministério episcopal, ordenado sacerdote, quando publicamente assumiu continuar a memória de Jesus pela celebração do Mistério Eucarístico. A ele foi dada a mesma ordem que o Cristo deu naquela noite da Última Ceia: “Fazei isto em minha memória”.
O sacerdote não se ordena a si mesmo, não chama a si mesmo, não escolhe a si mesmo, mas é chamado e escolhido. E toda escolha não é outra realidade senão um gesto de amor que não tem explicação humana, é um ato de amor que só o amor pode explicar.
Ser sacerdote é ter a consciência de que um dia fomos chamados do meio do povo, consagrados e devolvidos ao serviço do povo. Agir na Pessoa de Cristo exige constante esforço de se despir de todos os pecados e limitações para que a beleza e a grandeza de Jesus possa resplandecer em toda a sua luz.
Quem és tu, sacerdote? Alguém que, um dia, pela graça de Deus, foste chamado a seguir os passos de Jesus, foste seduzido pelo serviço apostólico, profético, percebeste que o anúncio do Evangelho era o teu único desejo, de servir o povo no desinteresse e na caridade era o teu sonho, que se colocar na escuta do grito de tantos irmãos esmagados, sofridos pela injustiça e pelo pecado era o teu único desejo, e por isso aceitaste com alegria ser “sacerdote”, deixando atrás de ti sonhos humanos, desejos.
Não te apavore se nestes últimos tempos, por todos os lados, tentam deformar, denegrir, sujar a imagem do sacerdócio. Em tempo de crise devemos viver com maior intensidade os valores da vida sacerdotal. A consagração sacerdotal não elimina a sedução do pecado nem nos vacina contra as tentações que experimentamos no dia a dia.
Nenhuma falta de um irmão poderá romper e destruir a beleza do sacerdócio. O coração de Jesus é tão grande que compreende todos os pecados e perdoa todas as faltas, é na misericórdia e no amor que se reconstroem as vidas. O ouro nunca deixará de se encontrar debaixo da terra, mas sempre ele terá o seu brilho.
A consagração sacerdotal não elimina a sedução do pecado